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Certa vez um irmão meu, Pastor, me afirmou que Cristina era a Jezabel da Bíblia. Bom, não poupo o fato dele ser meu irmão para afirmar que é vergonhoso o machismo nas Igrejas Evangélicas, que força à Bíblia a dizer o que querem que diga. Me indigna, chegando a uma delas, ver às mulheres como serventes do pregador e o pastor local. A Igreja não é um time de futebol masculino.
Desde então Deus me incumbiu da missão pastoral pela Mulher. Admiro-a não pelo seu corpo, senão pelo seu ser interior extraordinariamente único para tudo. Daí também, que se vou odiar, odeio a canção “Maldita Gení”. Cada vez que a escuto, choro.
Não pode o ser humano ser tão besta assim! Amanhã, 08.03.21 Dia Internacional da Mulher. Dedico a cada uma de vocês o escrito deste admirável poeta e prosaísta argentino Jorge Alemán.
#TitoBerry
CRISTINA ... O FATO MALDITO DO PAÍS TILINGO¹
"O antiperonismo como constante histórica"
O verdadeiro segredo do anti-peronismo era o ódio a Eva Perón.
Rodolfo Walsh deu sua grande forma literária no grande conto "Aquela Mulher".
Para além dos interesses políticos e econômicos das oligarquias dominantes, na Argentina e por motivos diversos, cristalizou-se um ódio pela presença do corpo feminino na política, muito difícil de localizar em outras realidades geopolíticas.
O ódio por Eva é reconfigurado em Cristina em uma nova mutação.
Cristina, é o fato maldito do país tilingo¹, até mesmo da tilinguería¹ letrada.
Cristina, conhecida desde o início da grande carreira de Alberto [o atual presidente], devia ser difamada, tinham que continuar a procurá-la, não deixar que a esqueçam, e sim, conceder-lhe a presença estrutural de um tabu.
O segredo do tabu é sempre um enigma, neste caso sua matriz fundamental é a seguinte: “que a mulher Cristina tem um poder excessivo, desumano, ilimitado, que opera a uma distância incalculável em qualquer cenário da vida política argentina”.
Como você pode ver, a tradução do Tabu é sempre reveladora de um delírio, uma realidade impossível é sempre convocada a que Cristina seria capaz de traçar o pior das realidades, mesmo quando ela está ausente.
Esse uso difamatório do nome de Cristina, essa operação de um tabu que acabou fazendo Cristina só aparecer muito discretamente em sua presença política, fala muito mal de uma corrente de opinião na Argentina.
Cristina é um tabu porque reúne em seu corpo uma grande autonomia intelectual, uma feminilidade afirmativa e não submissa e uma relação com um projeto histórico que está sempre por vir.
Pode-se argumentar que esta é apenas a operação política clássica da Direita contra um grande rival.
No entanto, há uma sequência histórica nesse grande ódio que consegue aproximar os nomes de Eva e Cristina.
Em Eva a paixão plebeia de um enorme desejo de redenção do popular.
Mas em Cristina há uma novidade: ter sabido governar, ter sido uma presidenta comprometida com a justiça sem abrir mão de um projeto intelectual do político.
São muitos os homens, mas também as mulheres, que precisam urgentemente se afastar de uma figura semelhante, porque se alguém assim tem um lugar na realidade e pode transformá-la, são muitos e muitas que devem passar por uma revisão séria de sua própria existência.
Não se trata apenas dos interesses populares que Cristina representa [uma questão fundamental], é também uma questão que diz respeito ao mais íntimo e singular da existência. Até que ponto uma mulher pode romper com o familiar e o doméstico e não apenas assumir responsabilidades políticas, mas para manter e insistir no desejo de transformá-lo? Nesse ponto, parece não haver meias medidas: ou ela é admirada incondicionalmente ou é odiada por chegar a um extremo delirante.
A grandeza da Argentina é ter dado origem a mulheres como Eva, Cristina, as Mães², as Avós², que mais do que mostrar o que sempre se soube, que existem mulheres excepcionais, mostram que há em cada uma um caminho para um lugar que nenhuma ordem simbólica pode definir inteiramente.
Aqui está a chave para o ódio.
A miséria da Argentina é o ódio - antes que qualquer abismo separador ocorra - a essa dimensão radicalmente criativa do feminino”.
Para quem não sabe quem é Jorge Alemán, a wikipedia conta:
https://es.wikipedia.org/wiki/Jorge_Alem%C3%A1n
¹Tilingo: coloquial depreciativo • Río de la Plata
[pessoa] Que é superficial, ridícula e boba, e mostra pouca inteligência ao falar.
²Maes e Avós de Praça de Maio que assumiram desvelar o mistério dos “filhos e netos desaparecidos” na Argentina na época das Ditaduras Militares.
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